Bertha Benz: pioneira entre os pioneiros

O histórico Patent-Motorwagen n. 3.
O histórico Patent-Motorwagen n. 3.

Como a determinação de uma mulher ajudou o marido a engrenar uma fábrica de automóveis no fim do século XIX.

Por Sarah Mauer – Imagens de domínio público *

Por várias razões os homens sempre estiveram à frente quando o assunto é automobilismo; no entanto, não é de hoje que mulheres também têm seu lugar de destaque. A MotorMachine, em sua edição número 11, contemplou seus leitores entrevistando Regina Calderoni, a primeira mulher a correr na categoria Stock Car, nos idos da década de 1980.

Todavia, isso só foi possível porque cerca de 100 anos antes alguém teve coragem de se aventurar em um carro com características bem distintas das que conhecemos hoje: motor de um único cilindro, com 2,5 cavalos de potência; uma roda na frente e duas atrás. A velocidade máxima: 40 quilômetros por hora.

O ano era 1888 e Karl Benz, um dos fundadores da Mercedes Benz, não estava conseguindo despontar com suas "carruagens sem cavalos". Ele era dedicado e desenvolvia bem suas máquinas, mas a divulgação deixava a desejar: poucas pessoas sabiam do potencial de um automóvel. Foi aí que Bertha Benz, esposa de Karl, não querendo que o negócio fracassasse, resolveu mostrar à Alemanha - e também ao mundo - que o carro era capaz de mudar a vida das pessoas.

A fim de testar o carro Patent-Motorwagen n. 3, Bertha deixou uma carta para Karl e saiu da cidade de Mannheim junto com seus dois filhos adolescentes rumo à Pforzheim, onde morava sua mãe. O caminho a percorrer era pouco mais de 100 quilômetros, o bastante para Bertha ser considerada a primeira mulher piloto de testes da história. Até então, nunca ninguém tinha chegado nem próximo dessa marca.

Ocorre que, nessa época, dirigir por tamanha distância não era nada fácil; além disso, motoristas tinham que ser habilidosos e criativos. Bertha que o diga: durante o caminho, teve que reabastecer o Patent-Motorwagen, para tanto, foi à farmácia mais próxima e comprou ligroína, um destilado do petróleo que era usado como combustível; ainda teve que desobstruir o lugar por onde passava a ligroína, nesse caso, a solução foi usar seu grampo de cabelo; não bastasse, a liga de suas meias foi utilizada para reparar a ignição; por fim, Bertha percebeu que os freios de madeira falhavam muito, razão pela qual resolveu trocá-los por de solas de couro.

Após aproximadamente 12 horas, Bertha e os filhos finalmente chegaram à cidade de Pforzheim. Depois de passar uns dias na casa da mãe, ela voltou para casa por um caminho diferente, a fim de que mais pessoas pudessem conhecer o automóvel.

O resultado não foi outro: quem presenciou a viagem foi repassando os detalhes, de modo que a notícia rapidamente se espalhou e até mesmo a imprensa estava sabendo da façanha. Ademais, a experiência de Bertha foi crucial para que Karl pudesse programar melhorias. Não por acaso, ainda no século XIX a Benz & Co já estava com sua produção em alta e, na virada do século, se transformou na maior fabricante automobilística do mundo.

Berth Benz (1849 – 1944) por volta de 1870.
Berth Benz (1849 – 1944) por volta de 1870.

Não sabemos se Bertha, quando decidiu ir visitar sua mãe de carro, tinha noção do quão importante era sua viagem para o desenvolvimento da indústria automobilística. Antes, os testes eram para ver se o automóvel funcionava, mas não para saber o real impacto que ele causaria no modo como as pessoas viviam e percebiam o mundo. Para isso, precisou da ousadia de Bertha, da ousadia de ser a primeira mulher piloto de automóveis do mundo.

* Artigo ublicado originalmente na Revista MotorMachine nº13 em junho de 2015.

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